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REICH E KRENAK: UMA CONFLUÊNCIA POSSÍVEL

Atualizado: 18 de out.

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O que será que Reich estaria fazendo nos tempos atuais?

Em quais questões sociais estaria envolvido?

São somente imaginações que de tempos em tempos me tomam, mas quando escuto as falas de Krenak e leio seus livros, vislumbro algumas possíveis respostas.


Acho que Reich um grande cientista estaria ativamente engajado com as questões planetárias, com o aquecimento global, com a busca social pelo respeito ao desenvolvimento infantil e com a luta dos povos indígenas pelo mundo. Acho que estaria profundamente preocupado ao ver uma nova ascensão da extrema direita no mundo se utilizando de novas ferramentas mas os mesmos métodos em que ele analisou profundamente no livro A psicologia de massas do fascismo.


Em seu livro Crianças do futuro Reich nos ensina que O nascimento, que deveria ser uma transição natural, transformou-se numa série de agressões traumáticas que marcam profundamente nossa bioenergética. A criança passa abruptamente do útero materno, aquecido e protetor, para um ambiente frio e hostil, onde sua primeira experiência é um tapa nas nádegas - um gesto violento disfarçado de "estímulo à respiração". Imediatamente após, é separada da mãe, rompendo o contato energético-orgonótico que a sustentava há nove meses. Esse desamparo inicial é agravado por práticas culturais como a circuncisão, imposta ao recém-nascido com a absurda justificativa de que "não dói porque os nervos não estão desenvolvidos".


Na realidade, a criança reage com uma contração bioenergética total, retraindo-se do mundo que a feriu. Quando finalmente é colocada no seio materno, muitas vezes encontra um bico frio, leite insuficiente ou de má qualidade - mais uma frustração ao seu impulso natural de conexão e prazer. Essas experiências formativas criam o primeiro "NÃO" bioenergético, uma contração fundamental que Reich identificava como origem do caráter humano defensivo. Como ele mesmo observou, a criança não pode verbalizar esse sofrimento, mas ele fica gravado em sua estrutura corporal, manifestando-se depois como rancor, medo e dificuldade de entrega à vida. Essa compreensão nos revela por que tantos adultos carregam uma desconexão profunda de seus corpos e emoções - são marcas de um sistema que, desde o primeiro respiro, nega nossa natureza bioenergética essencial.

"O princípio bioenergético natural do recém-nascido é sistematicamente anulado e destruído pelos pais e educadores encouraçados, apoiados, em sua ignorância, por poderosas instituições sociais que se desenvolvem baseadas no encouraçamento do animal humano."


Krenak nos tempos atuais tem sido enfático ao falar sobre as consequências nefastas para nosso planeta e nossa sociedade da separação entre homem e natureza. Inclusive ele nos evidencia o quanto o termo natureza é um termo Europeu, os povos originários por exemplo não possuíam tal denominação. Como nomear algo que não está separado ou fora. "Eu ia à escola aos colégios e dizia para professora para coordenadora pedagógica não insistam com as crianças com essa ideia de meio Ambiente por que isso separa o corpo da criança do Entorno onde ela está Ela vai começar a olhar o quintal da escola como lugar estranho ao corpo dela." (Uma outra ideia sobre a Natureza - Ailton Krenak na ABL).



Tanto Reich quanto Krenak no meu ponto de vista compartilham a capacidade de olhar para os fenômenos sociais e planetários com um distanciamento que lhes abre novas perspectivas, literalmente eles conseguem ver o que a maioria não vê. No que diz respeito à infância me parece que ambos concordam a partir de pontos de vista diferentes, que a desconexão com a natureza promove um dano em diversos níveis, individual, social, biológico e planetário.


Reich a partir de sua profunda pesquisa sobre a sexualidade entende que a couraça além de nos proteger de estímulos internos e externos e cronificar os modos de expressão e funcionamento pulsátil também nos separa da totalidade, de nosso pertencimento à totalidade que no caso é o nosso planeta terra. Recuperar a pulsação e flexibilizar a couraça são um possível caminho na reconexão com a totalidade.


Este grande encontro entre Reich e Krenak se dá justamente por ambos entenderem que o adoecimento humano e planetário está associado em um nível profundo à desconexão entre o homem e a natureza, entre o homem e sua pulsação interna. E ambos apontam saídas em direções semelhantes, a preservação da pulsação e do contato nas crianças.



Em nossa formação da vida viva orgonomia temos estudado autores como Krenak, David Kopenawa, Nego Bispo, pensadores que trazem outros olhares para nosso mundo, visões que contam a história de nosso país a partir de uma perspectiva dos povos originários e quilombolas e nos ajudam a entender como o encouraçamento está entrelaçado com a nossa história colonial. Para termos uma prática Reichiana atualizada e contemporânea é necessário que possamos integrar as discussões atuais, sobre gênero, raça, decolonialidade.


Essa liberdade que tive na infância de viver uma conexão com tudo aquilo que percebemos como natureza me deu o entendimento de que eu também

sou parte dela.



Então, o primeiro presente que ganhei com essa liberdade foi o de me confundir com a natureza num sentido amplo, de me entender como uma extensão de tudo, e ter essa experiência do sujeito coletivo. Trata-se de sentir a vida nos outros seres, numa árvore, numa montanha, num peixe, num pássaro, e se implicar. A presença dos outros seres não apenas se soma à paisagem do lugar que habito, como modifica o mundo. Essa potência de se perceber pertencendo a um todo e podendo modificar o mundo poderia ser uma boa ideia de educação. (Futuro ancestral página 56)


 
 
 

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